Título: Necrópole:
história de vampiros
Autor: Alexandre
Heredia; Camila Fernandes; Gianpaolo Cappelli; Richard Diegues
Gênero:
literatura nacional; suspense; terror
Páginas: 158
Editora:
Alaúde
Ano: 2005
ISBN: 85-98497-29-0
Eu
tenho um certo apreço pelas antologias, fico maravilhado lendo diversos contos
de autores diferentes reunidos em um único livro. Costumo dizer que ler uma
antologia é como escavar uma tumba misteriosa do Egito antigo, você poderá
encontrar tesouros maravilhosos, mas também poderá encontrar artefatos não
muito valiosos.
E
o livro “Necrópole: histórias de
vampiros” não foge a regra. Reunindo cinco contos de cinco autores
diferentes, o livro nos leva para uma Necrópole, uma cidade dos mortos, onde o
bizarro e o sobrenatural convive lado a lado com o ser humano. Cada conto
possui uma peculiaridade, mas falarei de um em específico que me chamou a
atenção e foi o “tesouro” que encontrei nesta “escavação”.
Alexandre
Fernandes Heredia, em seu conto “O
edifício”, nos transporta para um casarão no centro da cidade, onde há
muito funcionara um hotel, mas que hoje é apenas mais um dos milhares cortiços
que temos no centro da cidade de São Paulo. Lá vive o jovem Felipe, filho de
uma prostituta, cercado por aquela atmosfera lúgubre que faz parte dos antigos
casarões. Estes, carregados de histórias e lendas urbanas, as quais preenchem o
imaginário popular.
Felipe
não é a única criança no cortiço. Barata e Toninho são dois garotos valentões
que “mandam” no cortiço. E para se juntar ao clube de Barata e Toninho, ele precisa descer até o porão do cortiço e ficar
por duas horas no antigo quarto, que não era normal, o da zeladoria . A lenda de que um vampiro fora empalado há muitos anos e enterrado na parede
percorre o cortiço. E, sabendo disso, Barata e Toninho desafiam o garoto a
ficar duas horas no quarto, como um teste, e se mostrar-se digno, entraria para
o clube.
A
realidade e a fantasia se mesclam quando Felipe entra no quarto. Nem ele e nem
nós sabemos se o que está acontecendo é a realidade ou o imaginário do garoto.
A personagem nos leva a crer que tudo faz parte da realidade e que realmente
existe um vampiro enterrado na parede e que, de alguma forma, ele consegue alimentar-se
através dela.
As
duas horas se passam e Felipe não sai do quarto, Barata se recusa a entrar para
buscá-lo e vai embora, mas Toninho resolve entrar para pegar o garoto e levá-lo
para cima. Entretanto, ele também não sai do velho aposento abandonado. E o
sumiço dos dois garotos leva Maria, mãe de Felipe, a procura deles, mas o que ela não sabe é que algo muito terrível espera por ela na escuridão daquele quarto.
E mais uma vez a realidade e a fantasia confundirá o leitor.
O
conto “O edifício” merece cinco
estrelas sem sombra de dúvida, é um dos melhores contos no livro. O suspense
que o autor cria é assombroso e sua narrativa cena por cena envolve o leitor. Em
nenhum momento o autor se refere ao centro da cidade como sendo em São Paulo,
mas os cortiços são tão característico do centro de São Paulo que foi imediata
a associação.
Outros
contos também se destacam, como “Rogai
por Nós”, de Richard Diegues que nos imerge em alguns questionamentos
religiosos e morais em sua narrativa bem detalhada onde ele tece o conto
parágrafo por parágrafo. Mas alguns contos deixaram um pouco a desejar, eles
possuem uma excelente premissa e são desenvolvidos com muita maestria, mas pecam
na transação do desenvolvimento para o clímax, que é a parte mais importante em
um conto, pois é nele que o autor deve enlaçar o leitor de forma excepcional e
concluir a sua história, e alguns autores se perderam neste processo.
Contudo,
os autores se mostraram bem maduros na construção de seus textos (ao contrário
de algumas antologias que encontrei por ai), e isso ajudou na construção desta
antologia que se mostrou excelente em sua construção. É uma boa dica para quem
deseja começar a ler histórias sobre vampiros, mas não quer nenhum compromisso
a longo prazo.
Em
uma antologia você pode devorar cada conto em seu tempo, sem nenhum
compromisso, como se cada conto fosse uma nova vítima a ser apreciada.
Citação favorita: Mas, no fundo de seu cérebro, ouviu um sussurro leve, quase
um suspiro. Seu corpo se retesou e seus sentidos se tornaram alertar pela
primeira vez em muitos meses. Ele estava vivo! Não haviam conseguido
destruí-lo, nem mesmo com dinamite. E estava livre novamente.
Bom! |
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